Lívio Abramo (Araraquara, São Paulo, 1903 - Assunção, Paraguai 1992). Gravador, ilustrador, desenhista. Muda-se para São Paulo, onde, em 1909, estuda desenho com Enrico Vio (1874-1960) no Colégio Dante Alighieri. No início dos anos de 1920, faz ilustrações para pequenos jornais e entra em contato com a obra de Oswaldo Goeldi (1895-1961) e de gravadores expressionistas alemães. Realiza as primeiras gravuras em 1926. No começo dos anos de 1930, influencia-se pela fase antropofágica de Tarsila do Amaral (1886-1973). Durante o governo Getúlio Vargas, filia-se ao Partido Comunista Brasileiro (PCB), do qual é expulso em 1932. É preso por motivos políticos por duas vezes. Ainda nessa época deixa de gravar para dedicar-se ao sindicalismo. Retornando à gravura em 1935, incorpora a temática social em seu trabalho. Em 1947, ilustra o livro Pelo Sertão, do escritor Afonso Arinos de Mello Franco, publicado em 1949 pela Sociedade dos Cem Bibliófilos do Brasil. Com essa série de ilustrações, apresentadas no Salão Nacional de Belas Artes (SNBA), obtém o prêmio de viagem ao exterior. Segue para a Europa em 1951. Em Paris freqüenta o Atelier 17 aperfeiçoando-se em gravura em metal com Stanley William Hayter (1901-1988). De volta ao Brasil, em 1953, é premiado como o melhor gravador nacional na 2ª Bienal Internacional de São Paulo. Dá aulas de xilogravura na Escola de Artesanato do Museu de Arte Moderna de São Paulo (MAM/SP). Foram seus alunos, entre outros, Maria Bonomi (1935) e Antonio Henrique Amaral (1935-2015). Funda o Estúdio Gravura, em 1960, com Maria Bonomi. Em 1962, é convidado pelo Itamaraty a integrar a Missão Cultural Brasil-Paraguai, posteriormente Centro de Estudos Brasileiros. Muda-se para o Paraguai e dirige até 1992, o Setor de Artes Plásticas e Visuais. É fundador do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico do Paraguai.
Lívio Abramo começa a estudar desenho com Enrico Vio (1874-1960) em
1909. Com incentivo do professor segue a carreira artística, fazendo
para pequenos jornais suas primeiras ilustrações, na década de 1920. Autodidata
em gravura realiza, em 1926, suas obras, trabalhando, de forma rudimentar, com
lâminas quebradas em pedaços de madeira e adquire pouco depois suas primeiras
goivas. Em 1928 e 1929, faz gravuras em linóleo para o jornal Lo
Spaghetto, em que retrata a vida operária em formas bastante
simplificadas, ao estilo cubista. No fim da década, entra em contato com
as gravuras de Oswaldo Goeldi e visita mostras de expressionistas alemães, que
o afetam pela força e expressividade de sua arte, cheia de cor e de sentimento,
manifestando o desejo de transformação que o artista procurava definir em seu
trabalho.
No início dos anos 1930, a obra de Lívio Abramo é
bastante influenciada pelo movimento da antropofagia, apresentando formas
largas e arredondadas ao estilo de Tarsila do Amaral, com elementos
paisagísticos estilizados e deformação dos personagens. Torna-se amigo do
crítico de arte Mário Pedrosa e em 1931, começa a trabalhar no Diário
da Noite como desenhista, mas suas charges, como Inundação
no Canindé, ca.1932. Em meados da década de 1930,
incorpora a temática social a seus trabalhos, resultado também do
engajamento político. Tanto nas obras da fase operária como nas que tiveram
como tema as guerras, segue a linguagem expressionista, marcada pela dramaticidade
e monumentalidade das cenas. Impressionado com a Guerra Civil Espanhola
(1936-1939), realiza a série Espanha, 1938, com
gravuras contundentes que revelam sua oposição ao conflito.
Na década de 1940, conhece o alemão Adolpho Köhler, professor de
gravura, que o auxilia a dar refinamento técnico ao trabalho, tanto no
tratamento da madeira utilizada nas pranchas quanto no uso de buris mais
sofisticados, raiados, que em um só golpe cortam a madeira em diversos cortes
paralelos, produzindo matizes diferenciados e variados. Afasta-se da estética
expressionista e procura nova solução formal, mais despojada e sintética. O uso
da madeira de topo permite mais delicadeza nos cortes, que, aliado a novos
instrumentos, serve para expressar melhor seu conceito de luz, cor e forma da
paisagem brasileira.
Nos anos seguintes, inicia os desenhos, guaches e aquarelas da
série Macumba,
nos quais se nota o interesse em captar o ritmo e a dança. Realiza
posteriormente xilogravuras sobre esse tema, que alcançaram mais intensidade,
com a ampliação da sensualidade das linhas na alternância das áreas de luz e de
densa sombra.
Viaja para a Europa em 1951, com o prêmio de viagem ao
exterior do Salão Nacional de Belas Artes. Freqüenta o ateliê de Stanley
William Hayter e se aperfeiçoa em gravura em metal. Regressando da Europa,
realiza as séries de gravuras Rio, ca.1953, Festa, ca.1954
e Mandala, ca.1955,
de tendência abstratizante, nas quais cristaliza melhor sua linguagem gráfica,
valorizada pela diversidade de tons e de texturas que articulam figuras e
planos. Com a série Rio é premiado como o
melhor gravador nacional na 2ª Bienal Internacional de São Paulo.
Dá aulas de xilogravura na Escola de Artesanato do MAM/SP, e,
em 1960, funda com Maria Bonomi o Estúdio Gravura. Em 1962, radica-se no
Paraguai e trabalha na Missão Cultural Brasil-Paraguai, posteriormente Centro
de Estudos Brasileiros. Nas gravuras da fase paraguaia, recria a paisagem do
país, trabalhando com pontilhados e linhas que se aproximam da renda local,
nhanduti, muito delicada. Intensifica-se a simplificação da forma, predominam
os elementos horizontais e verticais, que dão um ritmo intenso, lírico e por
vezes dramático a composições quase abstratas, em que o artista não perde
o referencial visual, buscando traduzir a geometria das fachadas das casas e
dos povoados.
A produção de Lívio Abramo situa-se entre a figuração e a
abstração. Seu engajamento ao programa modernista gradualmente é alterado pela
abertura às vertentes não figurativas que começam a chegar ao Brasil após a
Segunda Guerra Mundial (1939-1945). O artista consegue conciliar, de maneira
peculiar, esses dois conceitos opostos e, com refinamento técnico, apresenta em
seu trabalho soluções formais de grande interesse estético.